Capítulo 1: Richard, o Cínico


Richard, o Cínico

Estava tudo escuro, ventava forte e sons de trovão eram ouvidos de longe. No meio de tudo isso, uma criança chora assustada, chamando por alguém:

- Papai... Mamãe... Cadê vocês?!

Gritava, mas em sucesso. De repente, um estrondo foi ouvido e um clarão quente aproximou-se da criança, que fechou os olhos e se encolheu em reflexo.

- Não!!! – Richard acorda suando, assustado, olha ao redor e vê seu simples quarto, só com a cama, um guarda-roupas e um criado mudo. Vira para seu despertador, que apitava incessantemente – Droga... – diz levantando-se correndo e se dirigindo ao banheiro.

Ele mora sozinho em um pequeno apartamento, onde só tem um quarto, uma sala/cozinha e um banheiro, mas para ele já é o suficiente para viver. Agora com 16 anos, saiu a um ano do internato onde viveu boa parte de sua infância. Ele se arrumou rápido, colocando uma calça jeans, uma camiseta preta e uma jaqueta azul, tênis pretos e o cordão que ganhara de sua mãe, seu cabelo agora era liso, pouco comprido, quase lhe tampando os olhos. Colocou algumas pokéballs em seu bolso e olhou para uma em especial, em cima de uma pequenina almofada em seu criado-mudo. 

- Vamos garoto? – disse olhando para a pokéball, agora em sua mão, e saiu.


 
- Olá e sejam bem-vindos a mais uma Competição de Batalha Pokémon da Renbow Island! – diz o apresentador, animando o público – Como sabem, pessoas de toda a ilha vem para assistir e participar de um dos eventos mais importantes do Rainbow Festival. Aqui é realizado um torneio de batalhas, onde o vencedor levará um troféu como prêmio. E quem ocupa o lugar de campeão à três anos consecutivos é ninguém mais, ninguém menos que o filho dos heróis de Oblivia: Richard Ferysen, cujo os pais foram vítimas de uma das piores tragédias de nossa história. – continuava – Então, sem mais delongas, que se inicie a competição!

Na área do festival havia vários mini-campos, onde inúmeras batalhas aconteciam ao mesmo tempo. Richard ganhava uma a uma com facilidade, não era a toa que o consideravam o melhor treinador da região. Porém, pessoas da arquibancada o observavam de forma diferente:

- Tem certeza de quem é ele mesmo? – perguntava uma mulher.

- De acordo com as descrições, é ele mesmo. – respondia um homem.

- Isso é bom... Vamos ver como ele se sai na final.

- Muito bem pessoal - dizia o apresentador, retomando a atenção dos dois – está na hora da batalha em que todos esperavam! – e a multidão se alvoroçava – E ela será entre o finalista Josh Wills e o atual campeão Richard Ferysen!

Josh era um menino simples, vestia uma bermuda jeans escura, uma camiseta branca, sandálias e uma bandana na cabeça. Richard o observou e não ligou muito, já sabia que ganharia fácil. A expressão em seu rosto era de descaso e desprezo.

- Vou ganhar para provar o quanto sou bom. – desafiou Josh.

- Vá em frente, tente. – ironizou Richard.

- Será uma batalha 3X3. Comecem! – anunciou o juiz.

Josh jogou sua pokéball e de lá saiu algo que parecia um crocodilo pequeno, só que sobre duas patas. Ele era azul, com partes amarelar e escamas vermelhas em sua calda, costa e cabeça.

- Croconaaaaaw – grunhiu.

- Humpf, já sabe o que fazer. – diz Richard atirando sua pokéball.

O Pokémon que saiu de lá era como uma enorme serpente, seu corpo era azul, com o dorso branco, tinha pequenas asas e chifre em sua cabeça e orbes em seu pescoço e cauda.

- Ahá, sabia, um tipo dragão! Croconaw, use Ice Punch.

O Pokémon de Richard, uma Dragonair, era do tipo dragão, e um ataque tipo gelo seria superefetivo, mas bastou um olhar de seu treinador para saber o que fazer. Ela ficou imóvel, até que faltassem alguns segundos para ser atingida, desviando com uma velocidade incrível e desferindo um belo e poderoso raio de seu chifre.

- Mas o que foi isso? – perguntava Josh perplexo.

- Simplesmente foi o ataque de minha Dragonair: Aurora Beam.

- Croconaw, levante-se e use Crunch. – e num rápido movimento, ele acerta em cheio Dragonair – Isso! Agora use Ice Puch mais uma vez!

Ainda com os efeitos do outro ataque, acaba recebendo um ataque crítico, sendo empurrada com o impacto. Ela olha para seu treinador, esperando ordens, mas vê seu olhar de desprezo, obrigando-a a reagir.

- Hora de acabar com isso, use Tunderbolt. – disse com um sorriso no canto da boca.

- Não pode ser! – desesperou-se Josh

Dragonair rapidamente se levanta e laça um fortíssimo trovão, acertado Croconaw, que cai nocauteado.

- Mas como? – perguntava Josh ainda confuso.

- Não se esqueça de que tipos dragão tem facilidade em aprender ataques de vários tipos.

- Mas anda não acabou, vá Staraptor. – disse jogado a pokéball no ar e lançando um Pokémon ave cinza e preto, detalhes brancos, com um topete vermelho.

- Staaaar! – piava confiante.

- Amador, volte Dragonair, já fez seu trabalho. Vá Growlithe. – falou calmamente jogado um Pokémon pequeno como um cão, tinha pelagem laranja com rajadas pretas e tufos de pêlo amarelos.

- Hahahahaha, você vai efrentar o meu Staraptor com esse pequenino aí? – ridicularizava Josh.

- Aprenda uma coisa: nunca subestime a mim, muito menos aos meus Pokémon.

- Grooooooow! – grunhia.

- Que seja. Staraptor, use o Aerial Ace!

O Pokémon ave ganhou força e velocidade, indo em direção a Growlithe, mas este começou a mover-se velozmente pelo campo, mal era possível acompanhá-lo.

- Mas o que é agora?

- É o Agility.

- De novo? Mas como?! Você não disse nada...

- Porque eu não preciso, meus Pokémon já sabem o que devem fazer. – disse Richard num tom grosseiro – Fire Spin!

Da boca de Growlithe saiu um redemoinho de fogo que atingiu seu oponente.

- Staraptor, levante-se e use Air Cutter.

Rapidamente o Pokémon obedeceu à ordem de seu treinador, lançando lâminas de vento em direção a Growlithe, que recebeu o ataque imóvel.

- Use Dig. – ordenou Richard.

- Staraptor, voe e preste atenção, quando ver Growlithe, use Drill Peck – falou Josh apressadamente.

A ave restava atenção em cada barulho, cada movimento do céu, mas mesmo estando alta, sabia que os efeitos de Agility o fariam ganhar um grande impulso, e era com isso que Richard estava contando.

- Agora, Fire Fang!

Os ataques colidiram levantando uma densa poeira no capo, e quando a poeira baixou, os dois estavam nocauteados. O público a essa altura já gritava e delirava com a batalha, que estava perto de acabar. Cada um recolheu seu Pokémon e encarou seu adversário, lançado seus últimos Pokémon.

- Aquele Growlithe até que era forte, mas é hora de mostrar meu trunfo. Agora, Mightyena! – falou Josh lançando um Pokémon parecido com um lobo, seu pêlo era preto e cinza e tinha um semblante amedrontador.

- Vamos lá, hora de esquentar as coisas... – disse Richard mostrando seu Pokémon, que já era conhecido por muitos ali: ele era parecido com uma raposa, sua pelagem era de um vermelho intenso, tinha uma cauda robusta,  gola e topete felpudos, todos amarelos.

- Ah, finalmente vou lutar contra seu famoso Flareon.

- Se queria tanto isso, então eu e Flay não vamos mais pegar leve. – desafiava Richard.

Josh e seu Mightyena estavam com olhares confiantes, como que não desistiriam tão fácil, mas era impossível não notar a semelhança nos olhares de Flay e Richard. O Pokémon tinha um olhar cínico, como se já soubesse da vitória, ridicularizado seu oponente com um sorriso malicioso.

- Mightyena, Dark Pulse!

- Double Team – disse sem pressa.

Flay fez dezenas de cópias de si mesmo, deixado seu oponente confuso, que atacava uma a uma.

- Use Shadow Ball, – ordenou Richard – e depois Flame Wheel.

- Evasiva!

Mas não funcionou, o Flareon tinha uma velocidade invejável, dando um golpe crítico.

- Isso não vai ficar assim, Shadow Claw.

- Shadow Ball de novo.

- Desvie agora!

Dessa vez eu certo, pois Flay foi atingido em cheio, sedo jogado longe, mas mal tocou o chão, pois se virou rapidamente ao olhar para seu treinador, deixando todos boquiabertos.

- É tão importante assim para você ganhar? – pergunta Josh

- Não ligo para a colocação ou para o prêmio, só participo disso para testar as habilidades de meus Pokémon.

- Então por que continua campeão? Não parece que vai desistir dessa vez.

- Eu continuo ganhando porque vocês são fracos, não encontro oponentes a minha altura... – respondeu, provocando a fúria de seu oponente – E eu nunca perco, nunca perdi e não vai ser dessa vez que eu vou perder! Flay acabe com isso.

Obedecendo a seu treinador, Flay começou a puxar toda a energia ao seu redor, carregando um tipo de raio.

- A não, é um Hyper Beam! Mightyena, rápido use Shadow Claw enquanto ele carrega!!! – falou apressadamente

Mightyena ganhou velocidade e foi em direção a Flay, mas antes de atingi-lo foi golpeado por um poderosíssimo raio, sendo nocauteado instantaneamente. “E esse era seu Pokémon ‘trunfo’...” pensou Richard irônico.

- Mightyena está fora de combate, a vitória vai para Flareon e Richard Ferysen. – anunciou o juiz.

A platéia gritava e festejava, ele conseguira novamente. O casal misterioso agora o observava cautelosamente:

- Ele é bom, muito bom! – disse o homem impressionado.

- Ele é perfeito! Era exatamente o que procurávamos. Vamos atrás dele! – falou a mulher puxando-o.

- Não podemos ir ainda – disse o homem parando-a – temos que encontrar outra pessoa. Nós temos que achá-la!

- E vamos, só que ele já está aqui, ele pode ser útil.

- É bom mesmo.

Na premiação, pessoas aplaudiam e garotas gritavam seu nome em coro. Mesmo não dando a mínima bola para isso, ele tinha muitas fãs.

- Foi uma boa batalha. – cumprimentou Josh.

Porém Richard não ouviu, pois algo lhe chamou a atenção: um vulto, um olhar extremamente família, que remetia a memórias por ele esquecidas. Acompanhou o vulto com o olhar, mas o perdeu de vista. Então, vendo que todos olhavam para ele, disfarçou e pegou seu prêmio e caminhou para a saída.

- Mas Richard, ainda temos a festa do campeão. – avisou o apresentador.

- Não ligo para isso...

E ele saiu, ao lado de Flay, deixando uns pasmos, outros nada surpresos, já estavam acostumados com sua arrogância. O casal, disfarçadamente, saiu atrás dele, seguindo-o, mas mal eles sabiam que também estavam sendo seguidos, sem sequer perceber. O espião ia de um lado a outro, observando, parecia que era muito bom em se esconder. Seu olhar era curioso, mas temeroso; preocupado, mas sereno, parecia transmitir paz. Seus olhos eram delicados, de cores incomuns.

Quando Richard estava perto de sua casa parou, virou-se para trás e perguntou:

- Quem são vocês? – disse, mas o casal agora se escondia – Sei que estão aí, apareçam!

Então os dois saíram e encararam o garoto, que retribuía o olhar.

- Quem são vocês e o que querem?

- Calma Richard, nós só queremos conversar...

Um comentário: