Capítulo 3: Pinchers a Vista!


Pinchers a vista!


O sol brilhava forte no céu e Richard acorda com os raios quentes batendo em seu rosto. Levanta dolorido; aquela não tinha sido sua melhor noite.

- Cara, se devo me arrepender do que fiz, a hora é agora. – disse, levantando-se e indo ao banheiro.

Quando saiu, foi ao seu quarto para ver se Ellie já tinha acordado, mas ela ainda dormia pesado, porém delicadamente. Ele abriu as cortinas e a garota acorda com os raios de sol.

- Que horas são? – perguntou sonolenta.

- Umas 8 horas. Dormiu bem? – perguntou com certo sarcasmo.

- Você nem faz idéia, não durmo em uma cama assim há muito tempo. – disse espreguiçando-se, acordando seu pequeno Pokémon.

- Nossa, você não tem casa não? – perguntou rindo, mas ela não respondeu, sentando-se na cama e ficando séria, com o olhar triste – Desculpe, disse algo errado?

- Não, não foi você, é que – hesitou – eu... não tenho casa há muito tempo.

- Eu posso perguntar por quê?

- Não! Não gosto de falar sobre isso. – terminou de forma rude, levantando-se bruscamente.

Togetic lançou um olhar reprovador ao garoto, que ficou sem ação. Os dois se arrumaram e, enquanto tomavam o café da manhã que Richard preparara, Ellie perguntou:

- E então, já se decidiu?

- Como?

- O que vai fazer da vida. Vai fugir, me ajudar ou enfrentar os Pinchers sozinho?

- Eles não me parecem ameaça.

- Ah, claro! Com soldados da divisão 5 você não pode esperar nada, até Togetic consegue cuidar deles com facilidade – disse apontando para o Pokémon em seu ombro, que se vangloriou, mas depois sentiu-se ofendido – mas eu quero ver lutar contra os da elite, aqueles são barra pesada, eu sei muito bem... e serão eles que virão atrás de você.

- Você até que sabe muito, para uma garota... – ironizou, se arrependendo quando viu sua reação e mudança de humor repentina.

- Nunca, você me ouviu, nunca me subestime ou duvide de mim só porque eu sou uma garota! – disse extremamente séria, puxando a gola da camiseta do garoto.

- Nossa, tá bom! Não está mais aqui quem falou. – respondeu recuando – Mas o que tanto você quer com eles?

- Quero impedi-los do que quer que seja que estejam planejando, a qualquer custo. Eles já me prejudicaram muito, e é a minha vez de jogar.

- Para que tanta raiva? O que eles tanto fizeram para você?

- Não é da sua conta... – respondeu rudemente.

- Educação passou longe, né?

- Humpf, olha quem fala. – disse ela encarando-o, retribuindo ele o olhar. – E então, vai me ajudar?

- E eu tenho escolha?

- Claro que tem, mas eu não respondo pela sua consciência.

- O que eu ganho com isso? – perguntou ele curioso.

- Bom, é uma troca, você me ajuda, eu te ajudo, esse é o trato.

Richard parou para pensar. Ellie era estranha para ele, tornando-se muito suspeita, mas ele não tinha nada a perder, tinha muitas dúvidas e estava disposto a encontrar as respostas, principalmente entender o fato de o porquê de ter se tornado um alvo para os Pinchers.

- Fazer o que, vamos né.

- Isso! Você não vai se arrepender! Vamos arrumar suas coisas e ir à caçada Rick... posso te chamar assim?

- P-pode... – disse sem graça, e começaram eles a arrumar cada um suas coisas.



Enquanto isso, não muito longe dali:

- ... Então é isso, cada um já sabe o que fazer, e sem falhas, o chefe não vai perdoar mais nenhuma. – ordenava um jovem a um batalhão. Esse rapaz, que era tratado como autoridade, era loiro com uma mecha e olhos vermelhos, usava bermuda, tênis e luvas retas, um colete vermelho e estava em cima de um tipo de mini-nave, que flutuava pouco acima do chão.

- Não sei por que você gosta de dar a pinta de mandão, se mostrando superior aos outros. – dizia uma bela jovem ao lado do rapaz.

Essa jovem, que o observava entediada debruçada sobre o apoio de seu flutuador, também era loira, com olhos e uma franja azul, tinha um top, short e luvas brancas, botas brancas com detalhes azuis e também usava um colete, só que azul e menor, aberto na frente.

- Cale a boca! Você sabe que temos de honrar nossos postos. Temos que ser os melhores, sempre! É por isso que estamos aqui. – discursava orgulhoso.

- Ah, claro! Espere só eu ir buscar minha pipoca para ouvir esse discurso de novo... – dizia irônica.

- Não vou dar mais bola para você, estamos no meio de uma missão muito importante, mais do que seu cérebro consegue processar.

- Hei! – gritou ofendida.

- Quietinha tá, não me atrapalhe. – disse virando-se ao batalhão – Vamos soldados, hora de fazermos uma visitinha a alguém...



Em pouco tempo, eles arrumaram suas bagagens. Richard não sabia o que lhe esperava, então não sabia bem o que pegar.

- Acho que vou continuar deixando o Quilava de guarda.

- Não, leve todos os seus Pokémon, não sabemos se vai precisar deles. – advertiu Ellie.

- Todos?

- Todos!

- Mas não precisa os mais fortes estão comigo.

- E você não sabe o que vai acontecer, e além do mais...

Richard esperou ela terminar, mas em vez disso parou subitamente de falar e ele ouviu um barulho como que algo tivesse caído no chão, e tinha. Ellie estava de joelhos no chão, pressionando com força a cabeça e lágrimas começaram a escorrer em seu rosto, parecia sentir muita dor:

- Ellie! – gritou indo ao socorro da garota – Ellie, Ellie! O que ouve? – mas ela não respondia – Você está me ouvindo?

Dito isso, ela abriu os olhos somente, mas permanecia estática, olhando fixamente para o nada, e ele viu que seus olhos, que antes eram brancos, agora brilhavam em lindos tons verdes, como uma esmeralda ao sol, hipnotizando o garoto.

- Droga, e agora, o que eu faço? – desesperava-se, mas seus olhos pararam de brilhar e ela parecia recobrar a consciência. – Ellie, está tudo bem? Que susto, o que...

- Eles estão chegando... – sussurrou ainda estática, de joelhos.

- Como?

- Eles... eles estão por aqui, vamos! – gritou levantando-se rapidamente como se nada tivesse acontecido.

- Ei, espera aí! Será que dá para me explicar o que ouve com você?

- Depois, mas temos que sair daqui agora, antes que eles cheguem.

- Eles quem?

De repente, alguém bate com muita força na porta:

- Droga, são eles! Vamos agora!!! – disse puxando-o.

Ellie recolheu seu Togetic, que estava muito assustado, fazendo Richard fazer o mesmo e puxando-o até o quarto, abriindo a janela e começando a descer pela mesma árvore em que ela utilizara no dia anterior, correndo em direção a floresta. Richard ainda podia ouvir vozes e barulhos de coisas sendo quebradas em seu apartamento. No meio do caminho, passaram por uma placa que dizia para onde estavam indo: “Teakwood Forest”, que era uma enorme e densa floresta onde, bem no centro, havia um estranho monumento com a lenda de ser um portal do tempo ativado pelo raro e lendário Pokémon guardião que o controla.

Os dois se esconderam entre as árvores, em silêncio, e viram que estavam sendo seguidos. Três pessoas estavam procurando por alguém, vestidos exatamente iguais: bermudas verdes, coletes bege, tênis e luvas pretas bonés verde-musgo, mais pareciam soldados, cada um em cima de um flutuador que ia de um lado a outro, deixando Ellie muito nervosa, assustada e Richard ainda meio confuso, mas aqueles flutuadores lhe eram familiares.

- Mas o que é isso? – sussurrou ele.

- São Pinchers. – respondeu.

- Pinchers?!

- Foram eles que invadiram o apartamento agora a pouco, já estão atrás de você.

- Está certíssima. – respondeu alguém atrás deles.

Os dois viraram-se assustados e viram dezenas de pessoas uniformizadas, cada um em seu flutuador, mas dois deles, um vermelho e outro azul, se destacavam.

- Você... – disse Ellie fuzilando com os olhos o rapaz de vermelho em sua frente.

 - Olhe só Red, o garoto até que é bonitinho. – disse a jovem de azul.

- Por favor Blue, concentre-se...

- Quem são vocês? – gritou o garoto

- Por que não pergunta a sua amiguinha, não é mesmo, senhorita Ellie? – disse o rapaz, fazendo a garota recuar o olhar ao ver que Richard a olhava chocado – Olha garoto, se não quer ser um de nós, isso não é problema meu, mas você tem algo que nos pertence. Devolva o livro agora.

- E se eu não quiser? – desafiou

- Não faça isso... – sussurrou Ellie.

- Bom, se quer pelo modo mais difícil... – disse e, num estalar de dedos, três dos capangas estavam em volta de Ellie e um Pokémon estava na frente dos dois: ele era grande, vermelho com rajadas amarelas, duas antenas amarelas saiam de sua cabeça e na ponta de sua cauda queimava uma forte tocha – para mim não há nenhum problema, adoro quando escolhem o modo difícil.

- Magmaaaaaaar – disse o Pokémon encarando Richard.

- Epa, pêra aí! – disse empurrando um dos capangas – Ela não tem nada a ver, o livro está comigo!

- Hahahahaha... Ela está mais envolvida nisso do que você consegue imaginar!

- Por que não diz logo quem é você?

- Bem, se você insiste... – falou olhando para a garota de azul, que tomou a frente.

- Eu sou Blue Eyes, da 1ª divisão, mas você pode me chamar só de Blue. – disse a jovem piscando para Richard, que ficou sem graça.

- E eu – disse o rapaz de vermelho – bom, você pode me chamar de Red Eyes, seu pior pesadelo, também da 1ª divisão, só que o melhor e mais forte da elite dos Pokémon Pinchers.

-Mas que raios que é Pokémon Pinchers? – perguntava confuso e surpreso.

- Hahahahahahahahaha, você nunca ouviu falar de nós? Mas é muito fraco mesmo – zombou Red Eyes.

- Retire o que disse!

- Senão?

- Senão sofrerá as consequências, vá Charmeleon! – gritou Richard lançando seu Pokémon lagarto vermelho com um chifre no alto de sua cabeça, grandes garras afiadas e uma tocha na ponta de sua cauda.

- Olhe só, ele tem algum Pokémon. – zombou Red.

- Grrr... Use Flamethrower!

Charmeleon desferiu uma grande labareda de fogo que acertou Magmar em cheio, mas pareceu não machucá-lo.

- Magmar, Focus Punch. – disse tranquilamente, fazendo seu Pokémon correr em direção ao Charmeleon.

- Desvie e use Slash! – e o Pokémon desviou com facilidade do golpe, acertando novamente seu oponente.

- Até que esse Charmeleon é bom, vou pegá-lo para mim e evoluí-lo para um poderosíssimo Charizard! – terminou apontando seu pulso, com um aparelho em sua mão, para o Pokémon.

- Mas o quê? – antes de conseguir dizer algo mais, um tipo de ondas roxas saiam do aparelho e acertavam Charmeleon, que não pareciam machucar-se, mas relutava fortemente.

- Por favor, não faça isso! – implorava Ellie, sendo segurada pelos soldados, mas sem efeito.

- Charmeleon!!! – gritou indo em direção ao seu Pokémon, porém foi jogado com força contra um enorme monumento existente na floresta.

Ele olhou assustado para o Pokémon. O chamou, mas não foi respondido. Os olhos de Charmeleon estavam vermelhos, em fúria, bufando muito, era como se nunca tivesse o visto. Ellie antão conseguiu se soltar e correu em direção a Richard, parando em sua frente e abrindo os braços como que se quisesse escondê-lo:

- Ele não tem nada a ver com isso! – gritou.

- Mas já se envolveu demais! Ninguém entra no meu caminho assim e se safa tão fácil. – retrucava Red Eyes.

- Me leve então, não é isso que ele quer? Mas o deixe em paz!

- Desculpe-me senhorita, tenho ordens referentes a você, não a ele. Ou ele vem conosco ou morre aqui. Charmeleon, Flamethrower!

Desta vez a rajada de fogo era muito maior e mais forte, queimando tudo em seu caminho. Richard ainda não conseguia se levantar, pois sentia as fores do impacto, mas Ellie ainda continuava em pé, na linha de fogo. “Ela é louca ou o quê?!” pensou, mas antes de ser incinerada viva, um enorme campo de força cobriu os dois, deixando-os ilesos.

- Mas como?! – indagava Red confuso.

- Olhe Red! – gritou Blue apontando para o monumento, que cintilava verde.

O enorme e antigo monumento de pedra começou a brilhar intensamente e de lá saiu um globo de luz que parou em cima de Ellie, diminuindo seu brilho. Dessa luz, uma delicada criatura se revelou: ela era graciosa, seu corpo tinha vários tons de verde, sua cabeça alongava-se na parte posterior e duas pequenas antenas saíam dela. Seu corpo era pequeno, com patas dianteiras mais longas que as traseiras e em suas costas havia um par de delicadas asas, mas fortes o suficientes para mantê-lo no ar. Seus olhos eram grandes, azuis, transmitiam uma paz e ternura indescritíveis.

- Ceee-biiiiiiii! – grunhia o Pokémon, que parecia acordar.

- Isso não é possível... – dizia Red boquiaberto.

O pequeno Pokémon aproximou-se de Ellie e começou a dançar feliz em volta dela, talvez feliz em vê-la, mesmo ela estando admirada e confusa ao mesmo tempo, e com isso o campo de força sumiu.

- Não podemos deixar essa oportunidade escapar! – sussurrou Blue.

- É verdade! Magmar, use Fire Punch; Charmeleon, Metal Claw, não deixem aquele Celebi fugir! – ordenou rápido.

Os Pokémon se aproximaram rapidamente, porém Ellie puxou Celebi, na tentativa de protegê-lo, mas o mesmo pulou de seus braços e desferiu um poderoso raio, que jogou os inimigos longe.

- Ellie, saia daí agora! – gritava Richard.

- Mas... – sussurrou, olhando para Celebi, que encarava Red e Blue – Celebi, fuja... fuja agora!

- Bi? – grunhia confuso.

- Eles irão pegá-lo, e vão fazer coisas horríveis com você, eu sei! Assim como fizeram com a floresta, assim como fizeram comigo...

Ainda confuso, o Guardião olhou a sua volta e viu sua preciosa floresta em chamas, e isso pareceu deixá-lo extremamente irritado, criando uma forte onda de luz, que parecia retroceder o dano por onde passava. Até Richard, que foi pego pela onda, não sentia mais dor, já os Pinchers foram arremessados para longe. O garoto correu até Ellie, que estava parada ao lado de Celebi, e quando chegou viu que ela olhava fixamente para Red e Blue, agora tontos no chão, e seus olhos cintilavam verdes novamente, igual aos olhos de Celebi, porém agora parecia transmitir poder: “Quem é você?” pensou, mas teve de pegá-la, pois caiu desacordada quando o brilho de seus olhos sumiu. O Pokémon grunhiu ao seu redor, parecia querer dizer algo começando a brilhar e voltando ao monumento, que parecia emitir um tipo de sinal luminoso para Richard.

Ele olhou para os lados e viu que os Pinchers pareciam estar acordando, então, olhando com tristeza e com um peso no coração para seu Charmeleon, que ainda agia estranhamente, sacou uma pokéball e a atirou no ar, correndo com Ellie em seus braços.

- Flygon, nos tire daqui já! – disse subindo nas costas do enorme Pokémon, que em segundos levantou vôo e desapareceu nos ares.

- Droga, eles fugiram... – resmungava Red Eyes.

- Ele não vai gostar nada-nada disso. – respondeu Blue Eyes, recebendo um empurrão do companheiro.



Bem longe de onde estavam Flygon pousou em uma praia aparentemente deserta. Estava chovendo forte e ventava muito, algo normal de um temporal litorâneo, ainda mais em uma ilha. Richard correu até uma cabana de madeira muito simples e bateu na porta: “Por favor...” dizia em pensamentos.

- Quem está aí? – perguntou uma voz rouca e cansada do outro lado da porta.

- Me deixe entrar, por favor! Ela precisa de ajuda... – dizia desesperado.

- Entre, rápido! – disse a pessoa, abrindo uma fresta na porta por onde Richard passou, recolhendo Flygon.

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