Capítulo 5: Problemas em Dolce Island - Parte 2


Problemas em Dolce Island – Parte 2


- Ellie, espera! – gritava Richard, mas a garota corria sem olhar para trás.

Nenhum deles entendia o porquê do desespero dela, mas parecia estar cega, correndo desesperadamente. Ela só parara quando trombou com um Teddiursa, que parecia correr do fogo que estava consumindo a mata, tropeçando em uma rocha na beira da praia e rolando alguns metros. Os dois foram, então, ao seu socorro; ela aparentava ainda estar debilitada, mesmo tendo repousado nos últimos dias. Seu olhar era de puro medo, estava tão assustada quanto na noite anterior.

- Eles conseguiram me encontrar? Como?! Será que meu sonho...

- Ei, espere, mocinha! – esforçava-se Booker ao falar, enquanto corria.

- O que é que está acontecendo?! – perguntou o garoto ajudando-a a levantar.

- Meu pé... – dizia com dor, sentando-se novamente – acho que torci. Que sorte a minha... corro por aí e machuco o pé tropeçando em um Pokémon e uma pedrinha idiota. – bravejou baixo.

- Eu te ajudo a ir até a cabana. – falou Richard, estendendo sua mão, mas ela virou a cara.

- Não preciso de ajuda!

- Ah, precisa sim! – terminou puxando e escorando-a em seu braço – Você já me ajudou, agora é minha vez de retribuir o favor.

Todos ali ficaram surpresos com sua atitude, até Flay, que vive com o garoto desde que os dois eram pequenos e presenciara suas mudanças com a morte de seus pais, estranhou seu jeito. Ele sempre agia por impulso, falava sem pensar e não se importava com mais ninguém, sendo rude e arrogante. Ellie ficou corada, olhando fundo sem seus olhos e aceitando sua ajuda; por mais que ela negasse, conseguia ser mais orgulhosa e imprudente que Richard.

Todos foram à cabana e Booker colocou ataduras no pé da garota, que continuava inquieta com a idéia de a terem encontrado.

- Eu vou ver quem ou o que está fazendo isso. – disse Richard.

- Não, pode ser perigoso. – impediu Booker.

- E se “eles” estiverem atrás de mim, ou de você? – questionou Ellie.

- Alguém tem que ir ver o que está acontecendo.

- Então ou vou junto. – respondeu ela, levantando-se com dificuldade.

- Você deu um mau jeito no pé ou na cabeça? Como vai me seguir assim?

- Já disse para não me subestimar. – desafiou, empurrando-o levemente com o dedo.

- Mesmo assim, você não vai conseguir correr com o pé machucado. – falou virando-se para Booker – Você pode ficar com ela aqui?

- Tenho escolha? – riu.

Richard então foi em direção a porta, acompanhado pelos outros dois. Ellie estava emburrada por não poder ir, mesmo entendendo os motivos. Quando eles abriram a porta, tiveram uma engraçada surpresa: um engraçado pássaro branco e azul, parecido com uma gaivota, voava desengonçadamente, tentando derrubar um pequeno Pokémon de suas costas.

- Piiiiiii! – gritava alegre o pequeno Pokémon rato amarelo e preto.

- Fofucha! – respondeu Ellie, andando com dificuldades, porém apressadamente, até a praia e segurando a Pokémon, que pulara do Wingull, em seus braços e abraçando-a com força – Pichu, que saudades!

- Você pode me explicar o que é isso? – perguntou o garoto, confuso.

- Calma, calma, esta aqui é a minha melhor, se não uma das únicas amigas que tenho. Te apresento a Pichu! – respondeu estendendo a Pokémon em suas mãos – Foi ela quem me fez ter a paixão por Pokémon elétricos.

- Chu!!! – grunhia feliz, soltando faíscas de suas bochechas rosadas.

- An... e por que ela estava nas costas de um Wingull?

- Antes de te encontrar, estávamos fugindo de dois Pinchers e nós acabamos nos perdendo. Mas isso não foi a primeira vez e nós sempre nos encontramos de novo.

- Como?

- Dando um jeito, é claro! Essa Pichu é o Pokémon mais inteligente que existe, sempre se vira sozinha. – continuou, afagando e acariciando-a.

Pichu pulou do colo da garota pra o ombro do garoto, esfregando-se nele e depois pulou para o chão, começando a pular, dançar e sinalizar, deixando-os muito confusos, menos Ellie, que sabia exatamente o que ela queria dizer:

- O que ela está fazendo? – perguntavam confusos.

- Espera um pouco. – respondeu ela, concentrando-se nos gestos que sua Pokémon fazia.

- É brincadeira, não é? Você está entendendo o que ela quer dizer? – brincou Richard, calando-se ao ver a cara que ela fez – Tudo bem, fico quieto.

- Ela os viu... – respondeu pálida.

- Viu quem?

- Eles... os Pinchers!




Antes da explosão, não muito longe dali, vários Pokémon saiam de suas tocas depois de dias escondidos do enorme temporal que caíra na ilha. Pidgey’s e Starly’s voavam alegres e Bulbasaur’s colocavam suas sementes ao sol. No meio disso, um grande bando de Pichu’s cria uma enorme bagunça, estando felizes com o sol que brilhava. Em meio ao caos, um som atrai a atenção de todos os Pokémon: Twaaaang

- Bulba “O que é isso”?

- Mareee “É tão lindo”!

De trás de alguns arbustos sai um pequeno Pokémon amarelo, com detalhes em preto, grandes orelhas, bochechas rosadas e uma cauda parecida com um raio. Ele segurava uma pequena viola azul, que estava eletrizada enquanto tocava.

- Chuuuuu! – cantarolava contente.

- Piiiii pichu “Gente, é o Ukulele”! – gritou um dos Pichu’s, ao ver um parente e amigo seu.

Com isso, todos se aproximaram do Pichu músico para cantar, dançar e festejar. Não tinham tantos motivos, mas estavam felizes, juntos, e isso bastava para eles. Porém um estrondo foi ouvido e um enorme Ursaring passa correndo ali, acompanhado do um Teddiursa, vindo de onde se ouviu a explosão.

- Graaaaaw “Corram”!

- Ted teeeee “Salvem suas vidas”!

- Pichu “O que houve”?

- Graaaaaaaaaaaaw “Humanos”!

E o caos voltou a se instalar, pois humanos eram raros na ilha, e para terem deixado Ursaring tão assustado, não eram nada bons.

De repente, algo começou a sobrevoá-los, algo que não era os Pokémon pássaros de antes, mas sim humanos uniformizados, vários deles, que começaram a atacar todos os Pokémon. Eles apontavam suas mãos e delas saíam ondas arroxeadas que fazia com que eles desaparecessem no ar. Todos entraram em pânico e começaram a correr em todas as direções; os Pichu’s esconderam-se em um tronco oco de árvore, mas foram descobertos, sendo pegos um a um, até sobrar o Pichu músico que, com a ajuda de sua viola, atacou e fugiu desesperadamente, depois sendo seguido.




Depois de muita insistência e bate boca, Richard vai atrás dos até então supostos “Pinchers”, ao lado da Pichu de Ellie. Mesmo ainda sendo cedo, ele estranhou o fato de a floresta estar deserta, silenciosa, sem nenhum Pokémon a vista, “Será que era isso que ela queria dizer com ouvir, ou escutar... ah, sei lá”. Caminhando por cerca de uma hora, encontrou o mais provável local da explosão, pois arbustos estavam queimados e galhos estavam caídos. Enquanto investigava o local, ouviu vozes e pequenos estrondos vindos de não muito longe dali. Ele esgueirou-se para ver o que era, mas foi surpreendido quando um Pokémon foi jogado em si: um pequeno Pichu, que segurava uma pequena viola. “Mas o que...” pensou, porém teve seu pensamento interrompido quando sentiu um leve, mas dolorido choque, pois o Pichu levantara-se e estava em posição de batalha, machucado e muito assustado, encarando Richard com raiva.

- Ei, calma aê! – disse levantando-se.

- Piiiiii – grunhiu com raiva, soltando faíscas para todos os lados.

- Pi-pichu pichu-pichu! – grunhia a Pichu no ombro do garoto, sinalizando para o enfurecido Pokémon.

O Pichu atacava incessantemente e Richard tentava entender de onde vinha tanta fúria. O Pokémon só parou quando um homem uniformizado, em cima de um flutuador, apareceu em meio aos arbustos. Ao vê-lo, o garoto reconheceu quase que imediatamente aquele uniforme:

- Ei, parado aí! – gritou aproximando-se – Obrigado por parar esse Pichu.

- An, de nada? – dizia olhando para o enorme Ursaring ao lado do homem. O Pokémon urso estava nervoso, mas contido, e seus olhos estavam vermelhos e brilhando, o que o fez lembrar de Red Eyes e seu Charmeleon – “Ele deve ser um Pincher!”.

- Vamos, Pichu, hora de ir com os outros. – falou apontando seu braço com um estranho dispositivo para o Pokémon, que correu assustado, sendo barrado pelo enorme Ursaring.

Pichu tentava se comunicar com Ursaring, mas era em vão, ele não parecia ouvir, e em uma última tentativa, começou a tocar. Todos ali, humanos e Pokémon, pararam e ouviram o melodioso som, ficando hipnotizados. Ursaring agora parecia relutar consigo mesmo, despertando o desespero do homem.

- Pare, Ursaring! – advertiu o homem.

- O que houve com ele?

- Er... nada! Ele só não gosta de música. – disfarçou – Agora me passe esse Pichu!

- Por quê? – desafiou Richard, dando alguns passos para perto do pequeno Pokémon.

- Porque sim! Ursaring, acabe com ele!

O enorme Pokémon foi para cima de Pichu, arremessando-o em uma árvore, quebrando sua viola com o impacto. Ele olhou frustrado e desesperado para seu instrumento, tentando tocá-lo novamente, mas sem sucesso.

Impaciente, o garoto chama Flay, que com um Hyper Beam, joga Ursaring para trás.

- O que pensa que está fazendo?!

- Se esse Pichu não quer ir com você, ele não é obrigado! – se impôs, socorrendo o Pichu, que o olhava confuso.

Vendo que estava em desvantagem, fugiu, sendo seguido por Ursaring.

Ainda assustado, o misterioso Pichu pulou do colo de Richard tentando fugir, mas estava muito machucado, caindo exausto no chão. O garoto sentou-se ao seu lado, colocando-o em seu colo e pegando um frasco spray roxo de sua mochila, porém o Pokémon se afastava cada vez mais.

- Acho que você não gosta muito de pessoas, né? Bem, se for por causa daquele cara, você tem motivo...

- Pi?

- Quer saber de uma coisa, também não gosto muito de pessoas, é por disso que estou indo atrás deles. – disse. Flay estava agora ao lado de Richard, com a Pichu em suas costas. Ele fez uma pausa, observando-o e erguendo o frasco em sua mão, mostrando ao Pokémon – Olha, isso aqui pode arder só um pouco, mas vai te ajudar bastante.

Ele tentava usar a potion, mas o pequenino se esquivava; seus olhos estavam cheios de lágrimas, seu semblante era de pavor e ainda segurava sua viola quebrada. Quando viu que não conseguiria escapar, fechou os olhos e se encolheu, sentindo o leve spray do medicamento. Quase que instantaneamente seus machucados sumiram e sua saúde foi restaurada.

O pequeno agora olhava nos olhos do garoto, que se levantou e começou a andar em direção a praia.

- Se cuide! – disse de costas, acenando com o braço, com Flay ao seu lado e a Pichu em seu ombro, que também acenava.

- Pi... – grunhiu baixinho, ficando sozinho em meio à mata.




Ellie olhava atenta pela janela com Togetic ao seu lado, preocupada, e Booker percebera isso.

- Que correria, não? – perguntou aproximando-se.

- Já estou acostumada com isso... – respondeu ainda fitando a janela – Espero que ele cuide direito da Pichu.

- Ora, não se preocupe! Richard pode até parecer orgulhoso, ou arrogante, mas é um bom garoto. Nunca deixa que seus amigos se machuquem... Bom, pelo menos até a batalha na Teakwood Forest. – suspirou.

- Como assim? – falou virando-se.

- Provavelmente você não se lembra, mas aconteceu algo lá que o abalou, mesmo sendo impossível notar.

- E o que seria?

- Seu Charmeleon... Ele me disse que o Pokémon agiu estranhamente, e que não conseguiu pegá-lo de volta.

-Eu lembro, vagamente, mas lembro. Mas pensei que ele não se importava com os Pokémon.

- Pelo contrário, querida, ele se importa e muito, só não consegue demonstrar isso.

- Por que? – perguntou cada vez mais curiosa.

- Vejo que aticei sua curiosidade... Bem, você sabe que os pais de Richard eram Pokémon Rangers, não é?

- Sim, já ouvi falar... Na verdade, a história deles é conhecida por todos os habitantes da região.

- Então, eu os conhecia... Ótimas pessoas, sempre cuidado de todos, pessoas e Pokémon, sendo ele pequenino ou imenso, e isso o fez amá-los desde pequeno. Mas o destino não guardava nada de bom para ele. Com a trágica morte se seus pais acabou indo para o orfanato, já que nenhum parente morava por aqui, e com isso ele  se fechou para o mundo, tendo só a companhia de seus Pokémon, considerando-os como a única família que tem. Ele é como uma pedra bruta que, se bem lapidada, se mostrará um belo diamante. Mas ele anda me surpreendendo... ele faz isso de vez em quando.

- Puxa, e-eu nunca tinha ouvido isso, nunca vi as coisas por esse lado. – disse um tanto sem graça.

- Sei que sua vida não tem sido fácil, mas é como eu digo: Dê tempo ao tempo.

Ellie voltou a fitar a janela, pensando em tudo o que ouviu, que já viu, já passou, já sentiu, quando viu a silhueta e Richard de longe, na praia. Ela correu para fora, recebendo Pichu em seus braços.

- Oi para você também – retrucou irônico.

- E então, o que descobriu?

- Ah sim, claro, estou bem, não aconteceu nada de mais! – falava encarando-a, que retribuiu com um sorriso – Bom, se quer saber, não muita coisa, mas... – teve sua fala interrompida quando ouviu um grunhido ao longe.

- Piiiii – gritava um Pichu, correndo em sua direção.

-Essa não... – sussurrou.

- Awn, que gracinha! Um Pichu com um violãozinho! – disse ela tentando pegá-lo e acariciá-lo, assustando Richard com sua repentina reação.

- Eu conheço esse Pichu, o chamo de Ukulele Pichu por causa do seu ukulele, ou o “violão”. Fui eu quem o fez para ele quando o vi tocando as vinhas de um Bulbasaur. – dizia Booker – Mas ele está quebrado, o que aconteceu?

O Pokémon pulava de um lado para o outro, acenando para Richard, que tentava se afastar discretamente.

- Você o ajudou, não foi? – perguntava sabiamente o senhor, com um sorriso de canto.

- Isso é problema meu! – dizia meio sem graça, vendo a cara se surpresa estampada no rosto de Ellie

- Ajudou, você?! Olha, por essa eu não esperava... mas ele pareceu gostar de você. – falava Ellie, surpresa e ao mesmo tempo tentando segurar o riso.

- Só que eu não quero nenhum Pokémon elétrico, só pego dos tipos fogo e dragão.

- Chuuuuu... – grunhia, com seus olhos grandes e brilhando.

- Pode esquecer essa cara de pidão! – bravejou, vendo que ele deu uns passos para trás, assustado – Olha, você é um carinha legal – disse mais suavemente, abaixando-se – só que já tenho meus Pokémon, e não quero por mais ninguém em perigo. – falava tentando consolá-lo, sendo observado por Ellie, que não escondia sua surpresa ao ver a reação do garoto.

- “Ele realmente se importa...” – pensou ela.

- Se quiser, pode ir com ela, já tem até uma amiguinha pra você. – terminou o garoto, apontando para ela, que voltou a prestar atenção no que estava acontecendo ali.

- Chu! – balançava a cabeça negativamente.

- Então me desculpe – disse levantando-se – não posso fazer nada.

Pichu pulava e gritava, mas o garoto caminhava firmemente para a porta da cabana. Vendo que não tinham o que fazer, Booker e Ellie o acompanhavam, deixando o Pokémon para trás, vermelho de raiva. Booker sabia o porquê daquela decisão, mas Ellie ficava cada vez mais confusa, “Ele primeiro ajuda, se preocupa, para depois largá-lo por ai, à própria sorte? Mas o que há de errado com esse garoto?”.

Quando estavam quase dentro da cabana, ouviram algo que os surpreendeu e assustou ao mesmo tempo:

- Será que um humano só aceita a ajuda de um Pokémon se ele o atacar?!

Um comentário: