Capítulo 6: Um Pequeno Grande Problema


Um Pequeno Grande Problema


 Todos olhavam boquiabertos para o pequeno Pichu, que tentava se mostrar superior, encarando-os.

- Eu ouvi o que penso que ouvi? – indagava Richard.

- O que, eu? – perguntava o pequeno Pokémon.

- Nossa, um Pichu falante! – gritou Ellie agarrando-o – Você é mais fofo do que pensei, quero um para mim!

- Me larga! – dizia debatendo-se – Faça ela me largar, por favor!

- Eu... não acredito, você fala! Mas como um Pokémon sabe falar? – perguntava pasmo.

- Peça para ela me soltar que eu explico.

- Ellie, por favor! – falou o menino, balançando a cabeça em sinal de negação.

- Tá bom. – retrucou, soltando-o.

- Obrigado... Oi Booker! – acenou para o senhor, que o olhava espantado.

- Você não sabia disso?

- Não! Eu já o ajudei, mas ele nunca falou para mim.

- Como você aprendeu a falar? Espera, por que você não falou comigo na floresta – perguntava aproximando-se.

- Não disse nada porque não sou de falar muito, nem com qualquer um! Ou se esqueceu de que eu estava sendo perseguido? Mas aprendi a falar observando os humanos que vinham aqui... vocês são muito tagarelas, piores que um Chatot, falam demais!

- Por essa eu não esperava... – dizia Booker pasmo.

Todos observavam o pequeno Pokémon falante estáticos, impressionados. Já o Pokémon os observava com desdém, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.

- Por que veio atrás de mim? – perguntou Richard quebrando o silêncio.

- Porque quero ajudar, quero pegar os humanos que sumiram com os meus amigos, a minha família! – dizia impondo-se.

O garoto abaixou-se o máximo que pode, encarando-o nos olhos e perguntando:

- É brincadeira, não é?

Ele conseguira deixar Pichu extremamente nervoso, que começou a faísca suas bochechas e o atacou com um fraco, mas dolorido raio.

- Acho que isso foi um Thundersock... – ria Ellie – Definitivamente não é brincadeira.

- Muito obrigado por me avisar... – dizia sarcasticamente, sentado no chão, todo chamuscado.

- Sei que sou capaz! – gritou.

- E o que pretende fazer?

- Ir atrás deles, falo com alguns amigos Pokémon e descubro onde estão rapidinho...

- Então por que precisa de minha ajuda?

- Porque você é forte! – respondeu, deixando Richard sem reação – Eu já vi... E querendo ou não preciso de ajuda, não vou conseguir sozinho. De que adianta eu encontrá-los se não conseguir salvá-los? Eu... quero me tornar forte também. – dizia entristecido.

O garoto, que ficou realmente comovido com a coragem e a ousadia daquele Pokémon, colocou sua mão sobre sua cabeça e o acariciou, o olhando com um leve e suave sorriso, o primeiro que Ellie via em sue rosto desde que o encontrara.

- E você vai, pode acreditar!

Ao ouvir isso, Pichu pulou em seu colo e começou a afagá-lo; sua expressão era de extrema felicidade.

- Muito obrigado, não vou decepcionar, eu prometo!

- Muito lindo, mas posso saber o motivo da súbita mudança de opinião? – perguntava ela, ajudando-o a levantar.

- Porque eu sei como é, sei como ele se sente... Perder tudo o que lhe era mais importante de uma hora para outra e não poder fazer nada! – disse seriamente, com a cabeça baixa.

- Bem... você sabe tocar essa viola? – perguntou a garota ao Pokémon, disfarçou.

- Sei sim, e muito bem! Olha, eu vou... – parou ao puxar sua viola de suas costas e ver que ela estava quebrada, suspirando triste – Esqueci que ela quebrou...

- Que tal irmos até minha marcenaria em Cocona Village para concertá-la? – propôs Booker.

- Sério, você pode? Obrigado Booker, você e o melhor! – disse Pichu pulando em seu ombro.

- Então vamos Ukule...

- Lele! – interrompeu o senhor, que o olhou confuso – Meu nome é Lele, só Lele! E isso não é uma viola – falou encarando a garota – é um ukulele, o que é bem diferente!

- Tudo bem. – disseram em coro, entreolhando-se.

Todos foram até um pequeno e simples cais, onde Booker tinha um barco ancorado.

Renbow Islando não era longe de Dolce Island, mas mesmo assim a viagem era demasiadamente demorada. A marcenaria do velho senhor também era no litoral da ilha: um sobrado simples, com um lugar reservado para guardar o barco e uma varanda; caminhando um pouco mais para o interior da ilha já era possível ver a cidade.

Logo que entraram na casa, um garoto que aparentava ter 10 anos veio correndo dos fundos do lugar. Ele era moreno, de cabelos verdes. Usava uma bandana laranja, bermuda azul e camiseta e tênis vermelhos e brancos.

- Mestre, mestre, o que houve? Por que o senhor demorou tanto para voltar? – perguntava preocupado.

- Tive alguns imprevistos. – falo o senhor olhando para trás, onde Richard e Ellie estavam a observar o local, sendo seguido pelo olhar do menino.

- Mestre, quem são eles?

- Não se lembra dele? – disse apontando para o menino.

- Eu tinha que lembrar?

- Nossa, faz tanto tempo assim que não apareço aqui, pivete – perguntou o garoto bagunçando o cabelo do menino.

- Tio Rick! Há quanto tempo! – gritou abraçando-o.

- Já disse que não sou seu tio! – bravejou ao ver Ellie rir de sua situação.

- E quem é esse lindo garotinho? – perguntou ela abaixando-se perto do menino, deixando-o envergonhado.

- M-meu nome é Nick... – disse tímido.

- Ele é meu aprendiz, mora aqui comigo há alguns anos.

- Nick! – gritou Pichu pulando no menino.

- Na você não está surpreso ao vê-lo falar? – perguntou o senhor.

- Por que? Eu sempre brincava com ele quando nós íamos aos Heights, e eu o ajudei a aprender a falar. – disse tranquilamente deixando todos surpresos – Mas seu ukulele quebrou, o que aconteceu?

- É uma longa historia... você conserta?

- Concerto, mas tem um pequeno problema...

- Qual?

- Nossa cola acabou. Na verdade, o Mestre foi a Dolce Island para pegar mais.

- Eu disse que tive alguns imprevistos... – disse ele sem graça – Por que não vai buscar com Richard?

- Mas por que eu? – indagou.

- Vamos tio, por favor!

- Sim, por favor... – pedia Lele.

- Ah, tá bom – retrucou, vendo que era voto vencido – mas já disse pra parar de me chamar de tio!

- Eeeeeeeh! – festejaram.

Então, nas costas de Flygon, Richard e Nick voaram de volta à Dolce Island, pousando perto da cabana de Booker.

- Flygon, fique aqui, caso precisemos de ajuda. – ordenou.

- Flaai! – falou posicionando-se.

Nick o guiou até onde eles pegavam a cola: um enorme tronco de árvore, oca por dentro, onde havia uma enorme quantidade de grude e seiva. Quando o menino se aproximou, vários Sunkern’s apareceram e começaram a atacá-lo.

- AAAAH! TIRA ELES DE MIM, TIRA ELES DE MIM, TIRAAA! – gritava ele esquivando-se.

Antes que Richard pudesse contra-atacar com qualquer Pokémon, um homem pulou em sua frente, apontando para os Pokémon o aparelho em seu pulso, chamando-lhes a atenção.

- Capture Styler ligado! – gritou e, com isso, um pequeno disco saiu do aparelho emitindo um traço de luz, que envolveu os enfurecidos Pokémon até que parassem de atacar, ficando calmos e amigáveis.

Os garotos olhavam o homem surpresos, um tanto maravilhados, mas Richard já tinha o visto: era Rand exercendo seu trabalho de Pokémon Ranger. Por sorte ele não havia o visto a alguns dias atrás, quando invadiu sua casa.

- Vocês estão bem? – perguntou ele.

- Acho que sim... – dizia Nick tremendo enquanto o garoto desviava o olhar.

- Bom... Espera um pouco, o que vocês estão fazendo por aqui? – perguntou severamente.

- É que... nós viemos buscar cola, para o Mestre Booker... Eu sou Nick, seu aprendiz. – dizia com medo do enorme homem.

- Oh, claro, agora me lembro de você, quando conheci Booker. Meu nome é Rand sou um dos Pokémon Rangers da região de Oblivia. Mas e você – disse virando-se para Richard, que agora o encarava – como se chama?

- Por que quer saber? Isso não te importa! – disse arrogantemente.

- E por que ser tão rude? O que custa?

- Vai tio, ele me ajudou. – disse Nick baixinho, olhando para ele agarrado em sua cintura.

- Ah, tudo bem... – reclamou – Meu nome é Richard – hesitou – Ferysen.

- Você! – dizia abismado – Então você é o famoso Richard Ferysen, filho de Samantha e Joseph Ferysen, os antigos Pokémon Rangers da região.

- Entendeu? – falou direcionado para Nick – Era por isso que ele não precisava saber quem eu sou.

- E por que não? A sua história e a de seus pais são conhecidas por todos, desde a Academia Ranger ao Ranger Union. Seus pais são uma lenda...

- Sim, uma lenda que já foi extinta! Vamos Nick, vamos embora. – disse puxando o menino.

- Espere! – falou correndo em direção aos dois – Por que você está dizendo isso? Eles foram heróis, devia se orgulhar disso.

Ao ouvir isso, Richard parou, serrando os punhos, com a cabeça baixa. Nick o olhava triste, ele também conhecia sua história e sabia o quão difícil seria para ele continuar a falar.

- E eu me orgulho... – falou baixo, evitando mostrar qualquer sentimento – Mas de que adianta? Eles estão mortos, e ninguém nunca descobriu nada!

Rand calou-se ao perceber que tinha falado demais. Os dois garotos continuaram sua caminhada rumo à cabana de Booker, deixando homem sozinho no meio da mata.

Nick dissera que precisava pegar alguns instrumentos na cabana, fazendo os dois entrarem, ainda com Flygon de guarda, porém:

- Você vai demorar muito? – perguntava Richard impaciente.

- Não, só preciso pegar...

- Flaaaaai! – gritava aflito o Pokémon, interrompendo-os.

- Flygon! – gritou o garoto, correndo para fora da cabana.

Quando chegou, vários Pinchers voavam em volta do Pokémon, que tentava os afastar enfurecido. Ao ver seu treinador, o impediu de continuar, batendo sua cauda no chão e levantando uma cortina de areia, apontando para a cabana:

- O que houve? – gritava.

- Flai, flaiigon!

- Aaaah!

Ao reconhecer que a voz era de Nick, Richard então correu novamente para lá, entrando e vendo que Red Eyes erguia o menino pelo colarinho.

- Você! – gritou – Largue ele agora!

- Se você diz... – ironizou, jogando o menino aos seus pés.

- O que é que você quer?

- Vim acabar com o que fui interrompido da última vez, não é Charmeleon?

O garoto espantou-se ao rever seu Pokémon, que estava irreconhecível: seus olhos brilhavam vermelhos, furiosos, e ele bufava muito. Ficava em posição de batalha, exibindo suas enormes garras, maiores do que antes, e sua cauda com uma forte chama queimando incessantemente.

- Nick, corra até o Flygon agora! – sussurrou.

- Mas tio... – dizia chorando.

- Agora!!! – gritou empurrando-o.

- Oh, que lindinho, vai proteger o moleque... você é mais patético do que eu imaginava! – zombava ele, provocando a ira do garoto – Hum... Acabe com ele.

Prevendo o que iria acontecer, Richard começou a correr, indo em direção a Nick, que já estava fora da cabana, sendo protegido pelo enorme Pokémon dragão. Com uma ira inexplicável, Charmeleon criou uma enorme bola de fogo e lançou na mesma direção em que o garoto corria, fazendo o lugar explodir sem que ele tivesse conseguido sair de lá sendo arremessado longe. Com um olhar maligno em seu rosto, Red Eyes chamou o Pokémon de volta, que sequer se feriu na explosão, pelo fato de sua grossa pele e de ser um Pokémon tipo fogo, voando para longe.

Flygon veio rápido ao socorro de seu mestre, que estava inconsciente, pegando ele e o menino e voando rapidamente para Renbow Island.




- Rick, Rick acorda! Você está me ouvindo? – insistia Ellie batendo levemente em seu rosto.

- Ele vai ficar bem Mestre?

- Vai sim Nick, vai sim...

Richard agora estava na casa de Booker, num dos quartos. Continuava desmaiado ficando demasiadamente ferido por causa da explosão. Com os chaqualhões da garota ele pareceu começar a acordar:

- O que... – dizia com esforço.

- Você está bem? – perguntava ela aflita.

- Nick, onde ele...

- Ele está bem, Richard. – interrompia Booker aliviado – Mas e você? O que aconteceu?

- Red Eyes, o meu... Charmeleon... – sussurrou, desmaiando novamente.

- Richard! – gritou ela em desespero.




Já era noite em Oblivia e Richard voltava a acordar. Sentia seu corpo dolorido e não conseguia se mexer facilmente. Seus braços tinham diversas ataduras, sua pele estava machucada, ralada, queimada, mas mesmo assim tentou levantar e sentar-se na cama, acordando Lele, que dormia ao seu lado:

- Gente, gente, ele acordou, ele acordou! – gritava feliz.

O garoto recolhia-se ao ouvir os berros do Pokémon, ainda meio atordoado, vendo que o quarto começou a se encher de pessoas. Lele pulava de um lado para o outro, sendo acompanhado por Nick e Booker o olhava aliviado, feliz em vê-lo bem. Enquanto o garoto tentava processar o que estava acontecendo, Ellie apareceu repentinamente na porta, correndo em sua direção e pendurando-se em seu pescoço, abraçando-lhe fortemente.

- Pensei que você não ia mais acordar! – dizia feliz, com lágrimas nos olhos.

- Ai, espera aí, isso dói... – disse sem jeito.

- Opa desculpa. – falou sem graça, afastando-se.

- TIO RICK!!! – gritava Nick pulando em cima da cama, assustando-os – Você está bem, você está bem!

- AAAI, é sério, isso dói!

- Nick, por favor, não atrapalhe! Deixe ele descansar um pouco. – dizia Booker, fazendo o menino se acalmar.

- Você... está bem? – perguntou Ellie, segurando delicadamente em sua mão.

- Er, mais ou menos... meu corpo ainda está dolorido – disse desviando o olhar – mas o que aconteceu e como cheguei aqui? Não me lembro de muita coisa...

- Deveria agradecer ao Flygon. – explicava Booker – Ainda bem que ele sabe o que fazer em situações como essa... Foi ele quem trouxe você e o Nick; estava muito preocupado, principalmente com você.

- E onde ele está? – perguntou preocupado tentando se levantar, mas recuando por causa da dor.

- Calma, ele está bem, está lá no galpão. Mas agora é minha vez de perguntar o que aconteceu, porque pelo o que Nick me disse, minha cabana foi destruída, não é?

- Foi ele... Foi aquele Red Eyes! Ele acabou com tudo, até com meu Charmeleon... – disse cabisbaixo, serrando os punhos – Além de roubá-lo não sei como, o transforma num monstro! Mesmo depois do tanto que eu o ajudei, de tudo que fiz por ele...

- Como assim? – perguntou Ellie.

- Há alguns anos atrás – começou Booker a falar – Richard encontrou um Charmander ainda bebê, muito machucado... acho que tinha fugido de alguém e trombado com algum Pokémon mais forte no caminho, mas estava muito ruim mesmo, eu achava que não iria sobreviver, só que ele cuidou do pequeno Pokémon por semanas, sem descanso, até que ele ficasse bem, e algum tempo depois, com inúmeras vitórias, ele evoluiu para Charmeleon.

- Você ainda se lembra disso? Não sabia que fazia tanto tempo assim, eu ainda morava aqui, tinha saído a pouco tempo do orfanato.

- Eu me lembro de tudo Richard, de cada dia, cada detalhe. – falava serenamente, com um doce sorriso, confortando o garoto.

- Um dos melhores do meu time, acho que mais um pouco ele evoluiria de novo, mas de uns tempos para cá só o usava nas batalhas mais difíceis. Ele era especial, meu amigo... um membro da família... – terminou baixo, deixando escapar uma única e fina lágrima, que logo foi enxugada.

 Ellie ficou surpresa; não imaginava que os Pokémon eram tão importantes para ele, como Booker dissera, “Então é verdade, ele realmente se importa...” pensava ela com um enorme peso no coração. Sentindo-se culpada e tentando amenizar seu sofrimento, ela o abraçou delicadamente, enquanto ele a olhou atônico.

- Não se preocupe, vamos pegá-lo de volta, nem que seja a última coisa que eu faça, eu prometo!

Richard não sabia como agir, não estava acostumado com atitudes como essa para com ele; todos o ignoravam e desprezavam por causa de seu comportamento estúpido, todos menos Booker e Nick, que eram as pessoas mais próximas que ele tinha. Ele se sentiu acolhido como quase nunca e há muito tempo não se sentia, ainda mais que por uma garota que apareceu do nada em sua vida e mudou sua rotina radicalmente.

- Você teve visitas, Rand passou por aqui para ver como você estava. – continuou o senhor – Ele ouviu a explosão na ilha, mas quando chegou no local Flygon estava levantando vôo. Disse que tem certeza que foi ato dos Pinchers, desde a explosão aos estranhos acontecimentos por toda a região... Ele teme de que esses bandidos tentem tirar nossa paz, tentando tomar o poder novamente, como outros já tentaram há muito tempo.

- Aquele enxerido, fica bancando o herói, mas quando se precisa ele some! Pelo menos está certo sobre serem os Pinchers...

- Mestre, o que o senhor quer dizer com: tentando tomar o poder de novo?

- É uma longa história, longa demais para essa hora da noite. – disse se aproximando da porta – Bom, chega de conversa, está tarde e é hora de vocês descansarem. Vamos Nick, hora de dormir.

- Ah... tchau tio, e vê se melhora! – disse sorrindo ao acompanhar Booker

- Qual é, eu já disse que não sou seu tio! – reclamou sem graça.

- Ah, quase me esqueci... – continuou virando-se – Rand deixou um recado, disse que dois novos Pokémon Rangers vão vir para a região e um deles é conhecido seu, acho que um parente.

- Um parente? – perguntou surpreso.

- Isso mesmo mas ele não me disse o nome, talvez cheguem aqui semana que vem, e até lá vocês vão ficar aqui, repousando.

- Tá, tudo bem...

- Boa noite para vocês. – despediu-se fechando a porta.

- Eu vou dormir aqui com você. – dizia Lele enquanto pulava na cama, sentando-se ao lado do garoto.

- E você Ellie? – perguntou Richard, mas ela sequer respondeu, fitando seriamente a janela – Ellie, está me ouvindo?

- An, o que disse? – perguntou como se acordasse de um transe.

- Está tudo bem? Perguntei onde você vai dormir...

- Ah, claro só estava pensando...

- Hum, pensando em que? – perguntou curioso.

- N-nada de importante! Vou dormir aqui mesmo, já que não tem outro quarto, boa noite. – terminou deitando-se rapidamente na cama ao lado.

Mesmo achando sua reação estranha, virou para o lado oposto e voltou a deitar-se, pegando no sono rapidamente, “E depois não é estranha...”.




Por mais que tentasse, Ellie não conseguia dormir. Pensamentos e lembranças de um passado sombrio fervilhavam em sua mente, deixando-a mais uma vez perturbada, porém:

- Ei, ei, humana, moça... ah, não sei seu nome!

- O que?

- É ele – sussurrava o pequeno Pichu apontando para Richard – tem alguma coisa errada!

Ela então levanta e se aproxima do garoto, que remexia e sussurrava algo que não era possível entender. Tocou seus dedos em seu rosto e percebeu que estava tenso, suando frio e com o coração acelerado; se estava sonhando com alguma coisa, não era nada bom.

- O que está acontecendo com ele? – perguntou Lele preocupado.

- Essa não... – dizia aflita – acho que ele... descobriu!

Nesse instante Richard acorda e levanta assustado. Com a pouca luminosidade, demora a perceber a presença de alguém, acendendo o abajur e vendo Ellie o observando preocupada, junto a Lele. Ele abaixa a cabeça e tenta organizar seus pensamentos; seu olhar era assustado, como se tivesse desvendado um grande mistério, e realmente tinha.

- Agora tudo faz sentido... – sussurrou.

- O q-que faz... sentido? – perguntou temerosa.

- Foram eles, os Pinchers, que... mataram meus pais!




- Bem, pelo menos os resultados dessa missão foram satisfatórios. – dizia aquele que era tratado como general, em meio às sombras, para Red e Blue. O rapaz se vangloriava e a moça sorria delicadamente.

- Obrigada senhor! – dizia feliz.

- Eu disse que seria um sucesso! – esnobava-se Red – Toda a Southern Beach e Heights foram vasculhadas, e para melhorar encontrei com um de nossos alvos e lhe dei, digamos, um presentinho... Acho que ele não vai se esquecer tão cedo de mim. – ria malevolamente.

- É, só que agora eles não serão mais seus alvos principais... vocês continuaram com as missões necessárias para o nosso glorioso projeto ser concluído.

- Mas por quê?! – indagavam.

- Porque tenho outra pessoa mais capaz encarregada para isso. – disse apontando para a enorme porta, onde uma pessoa permanecia em pé, escorada no batente – Essa é nossa arma secreta, e eu sei que conseguirá localizar, capturar e neutralizar nossos alvos, mas quero total e absoluta descrição, ou pagarão caro pela desobediência!

- Sim senhor! – disseram em coro, prestando continência e saindo da enorme sala escura.

- Muito bem – disse o homem para a misteriosa pessoa, que se aproximava – não vai se atrasar, você tem que causar uma boa impressão a todos... principalmente a eles!

- Pode deixar senhor, tudo ocorrerá perfeitamente dentro dos planos... – disse com um sorriso de canto, saindo da sala.

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