Capítulo 2: Encontros e Desencontros


Encontros e Desencontros

- Se querem perguntar sobre a batalha, não tenho nada a dizer, vamos Flay. – disse virando-se.

- Não, não vamos perguntar da sua batalha, mas devo dizer que você foi esplêndido. – elogiou o homem – Gostaríamos de fazer outro tipo de pergunta.

- Só não me façam perder meu tempo. – retrucou.

- Pode acreditar, não vai.

- ... Estou ouvindo.

- Você nunca quis ser mais forte, por sua força em prática e ter pessoas aos seus pés?

- E por que eu iria querer isso?

- Ah, talvez para mostrar a todos sua superioridade – dizia agora a mulher – ou, vingar seus pais?

Ao ouvir aquilo, Richard congelou. Não ouvia alguém falar de seus pais diretamente há muito tempo, ainda mais dessa forma.

- Como assim “vingar”?

- Vai me dizer que tudo foi um acidente? – continuava a mulher – Não me faça rir!

Na mente dele, memórias daquela trágica noite vinham à tona, todos achavam que tinha sido um acidente pois ele nunca falou a ninguém o que realmente aconteceu. Flay olhava desconfiado para o casal, mas o garoto ficava cada vez mais curioso e interessado na conversa.

- Conseguiram chamar minha atenção; então, o que querem de mim?

- Queremos lhe fazer uma proposta, – dizia o homem – a de entrar para nossa equipe.

- Estávamos te observando há um tempo – falava a mulher – e você é exatamente quem nós procurávamos.

- E em que tipo de equipe vocês fazem parte?

- Somos de uma elite, só os melhores podem entrar. Nós somos da divisão 5, onde fazemos pequenas missões e procuramos novos membros. – explicava o homem.

- Mas você, meu jovem – complementava a mulher – já entraria na divisão 3, ou 2!

- Porém, se você entrar, não poderá mais sair. – avisou o homem.

A conversa soava estranha ao garoto, mas não conseguia tirar sua atenção dela. Ele poderia achar errado ou perigoso, mas a sensação de poder e, principalmente vingança, lhe eram atrativas.

- E o que eu tenho de fazer se quiser entrar? – insinuava.

O casal se entreolha e sorri:

- É só fazer um favorzinho para nós...

- Qual?

- Venha conosco. – chamou o homem.

Os três foram andando floresta adentro, subindo um morro, quando se depararam com uma casa no meio da mata. Ela era simples, porém grande; por fora parecia um laboratório, mas havia uma placa na frente da casa: Rand’s House – Pokémon Ranger. Mesmo Richard tendo vivido quase sua vida toda em Renbow Island, não a conhecia completamente. O casal começou a explicar quem era Rand e que ele e sua família moravam ali, fazendo estudos sobre o passado de Oblivia. Ele ouvia cada palavra atentamente, mas teve sua atenção dispersa quando viu um vulto entre árvores próximas, grande demais para ser um Pokémon da região.

- O que ouve garoto? – perguntou a mulher.

- Na-nada, foi só um vulto, provavelmente de um Pokémon selvagem. – mentia, pois não queria que percebessem aquela presença – Por favor, repitam a última parte.

- Nos queremos que você entre naquela casa e pegue duas pokéball’s nossas, que provavelmente estão no laboratório e um livro muito importante, grande e velho, que está na biblioteca.

- Para que um livro velho?

- Por enquanto não é do seu interesse. – disse o homem arrogantemente, despertando a ira do garoto – E então, vai ou não vai?

- Primeiro me falem seus nomes.

- Er, nossos nomes? – disse entreolhando-se – Acho que não tem problema. Eu sou Lucas, codinome 5-41, e ela é Amanda, codinome 5-42.

- Mas por que EU tenho que roubar para vocês?

- Você não vai roubar, só pegar de volta. E, além do mais, você é mais jovem do que nós, irá ser moleza. – disse Lucas.

- Vamos nos esconder ali, atrás daquelas árvores – apontou Amanda – só esperando por você.

Richard não gostava muito da ideia, mas não iria desistir agora, pois nunca desistia de um desafio, por mais banal ou perigoso que fosse. Ele analisou a casa por fora e viu uma janela aberta no 2º andar, perto de uma árvore. Subiu sem dificuldades e entrou em um pequeno escritório, parecido com o que seu pai tinha, o fazendo lembrar-se de seu passado, mas afastou os pensamentos olhando pela porta e observando o local onde estava: mesmo parecendo um laboratório por fora, o 2º andar era uma enorme biblioteca, com livros, revistas, maquetes e artefatos antigos. Descendo as escadas viu a porta de um laboratório aberta e ninguém a vista, entrado e achando as pokéball’s mencionadas. Subiu novamente e começou a procurar pelo livro, quando ouviu passos, se escondendo rapidamente embaixo de uma mesa. Olhou cuidadosamente por baixo e viu uma garota, aparentava ser mais nova que ele, vestia short e sapatos marrons, camiseta rosa com detalhes amarelos e um jaleco comprido branco, seu cabelo era azul e tinha um óculos grande de hastes vermelhas, além de um curativo no rosto; parecia uma mini cientista. Ela pegou alguns livros e papéis e desceu rápido, para o alívio do garoto.

Ele saiu do esconderijo e voltou a procurar quando viu um que se encaixava nas descrições: o livro era grande, de capa verde e dura com escritas em dourado dizendo “Lendas de Oblivia: a verdade por trás do mito”. Olhou para ver se tinha algum sistema de segurança: não tinha, e então puxou o livro, mas outros que estavam ao lado caíram, fazendo barulho e, para piorar, a garota estava subindo as escadas novamente.

- Papaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai!!! – berrava ela.

Daí começou a correria! A garota desceu correndo e chorando enquanto Richard quase voou pela janela, jogando as pokéball’s para o casal, que se aproximava.

- O que houve? – perguntavam.

- Uma garota... me viu! – dizia esbaforido.

- Isso não é bom... Vamos antes que ele chegue. – se apressava Lucas.

- Ele quem?

Antes de conseguir responder, uma sombra passou por cima deles e um enorme Pokémon pássaro de metal já podia ser visto, fazendo cada um deles se esconder dentre as árvores. A casa estava num alvoroço enorme e Richard não tinha conseguido ir muito longe, ficando demasiadamente exposto. Estava se preparando para sair correndo quando viu uma sombra, ficando imóvel. Esgueirou-se e conseguiu ver que era um homem grande, forte, moreno de cabelos escuros, com um uniforme: camiseta e bermuda pretas, colete vermelho, todos com detalhes brancos e amarelos, tinha um aparelho em seu braço e uma identificação no colete: Rand.

- Droga, então ELE é o Rand... – pensava Richard

O Pokémon pássaro Skarmory observava tudo com atenção, à procura de alguém. Quando ele estava quase vendo o garoto, um vulto o puxou, tampando sua boca.

- Vem, corre! – disse o vulto.

Por causa das árvores, a luminosidade era baixa, não sendo possível distinguir as coisas, mas essa pessoa tinha a mesma altura que ele, talvez tivessem a mesma idade. Ele foi jogado para trás de uma árvore, ficando ele e o vulto escondidos.

- Mas o que é que... – não conseguiu terminar pois teve sua boca tampada novamente.

- Cala a boca! – sussurrava o vulto.

“Mas que ousadia!” pensava, mas como brilho sol, pode ver quem o segurava: uma garota, e muito bela por sinal. Tinha um belo corpo, delineado por suas roupas: um short jeans, uma regata azul, tênis escuros surrados e uma blusa clara; carregava uma bolsa transversalmente ao seu corpo e tinha um colar muito estranho, parecendo uma mini pokéball, seus cabelos cor de mel eram compridos e lisos, curvando-se nas pontas e seus olhos eram de cores nunca vistas pelo garoto: quase brancos, como a lua cheia, bela e delicada no céu negro. Richard a observava com muita atenção, imóvel, parecia que já tinha visto aquela garota:

- “Eu te conheço de algum lugar, mas onde?” – pensava.

- Vamos, mas em silêncio! – sussurrava ela.

- Não vou a lugar nenhum! – falou num tom alto.

Em seguida passos foram ouvidos, deixando a garota assustada.

- Não diga a ninguém que me viu. – falou ela e correu para o meio da mata, escondendo-se.

- Ei Richard! – dizia Lucas – Você está ai? Pegou o livro?

- O livro... – disse escondendo o grande livro; ele não sabia por que ele era tão importante, mas iria descobrir, a qualquer custo – Er, não deu tempo, a garota me viu primeiro.

- Droga! O livro era mais importante! – bravejava acompanhado de um Buizel.

De repente, a garota que a poucos o ajudou foi jogado do meio dos arbustos para perto dos dois.

- Olha só o que eu achei. – ironizava Amanda, saindo de trás de arbustos, acompanhada de um Pokémon dinossauro pequeno, bípede, com o corpo cinza e azul e um capacete, também azul – Bom trabalho Cranidos.

- Você! – se surpreendia Lucas – Finalmente te achamos! Nada como pegar dois Buneary’s numa cajadada só!

- Como assim? – perguntava confuso, disfarçando ao olhar para a garota e lembrando-se do que ela dissera há pouco.

- Estávamos em duas missões – explicava Amanda – e parece que as terminamos antes do previsto.

- Por que vocês não largam do meu pé? – dizia a garota com raiva.

- Porque nós recebemos ordens... e se eu fosse você ficaria bem quietinha. – ordenava Amanda.

A conversa estava ficando tensa, as garotas se encaravam, Lucas só observava e Richard ia ficando cada vez mais confuso, procurando um jeito de escapar, porém todos ali se esqueceram de quem realmente estavam fugindo. Num rápido movimento, Skarmory cortou toda a vegetação ao redor, abrindo caminho para Rand.

- Parados ai! – disse o Ranger, apontando-lhes o pulso com o aparelho.

- Sujou... Vamos! – gritou Lucas, mas atrás deles havia um enorme Drapion, pronto para agarrá-los.

Com toda a confusão, Richard havia conseguido fugir, perdendo a garota de vista. “O que será que eles queriam com o livro, e quem é esse Rand?” pensava enquanto corria. Com o cansaço e o stress, decidiu ir para casa, para onde deveria ter ido desde o começo. Chegou e correu rápido para o 3º andar, onde morava, se trancando em seu apartamento. Tirou uma pokéball do bolso e soltou se único e fiel amigo Flay, o qual recolhera antes de ir à casa de Rand, e foi tomar um banho. Quando saiu, enrolado em uma toalha, teve um enorme susto:

- Você precisa reforçar a segurança... – disse com um sorriso amigável.

Ele quase teve um ataque quando se virou: a garota que o ajudou na casa de Rand agora estava sentada no meio de sua cama. Com o susto que levou, ele ficou pasmo, sem reação, disparando a fazer perguntas logo em seguida:

- Como subiu aqui? Como entrou aqui? Como passou pela minha segurança? Pera ai, quem é você?! Como...

- Calma, calma, uma de cada vez! – dizia a garota rindo – Em primeiro lugar, meu nome é Ellie; em segundo, ninguém mandou você deixar a janela aberta, ainda mais com essa arvora de frente. Em terceiro, se essa sua “segurança” se refere a este fofinho aqui – disse apontando para um Quilava em seu colo – ele é muito bom, quase não me deixou entrar! Seus Pokémon são uma gracinha! – completou apertando o Pokémon azul e amarelo, que dormia em seu colo com os carinhos que recebia – Além do mais, seu Flareon me deixou entrar.

- Flay! – retrucou Richard olhando para seu Pokémon, que retribuía o olhar como que dizendo: “Isso não é problema meu, não tenho nada a ver com isso”.

Sua ficha caiu, lembrando-se que estava só de toalha na frente de uma garota, deixando-o extremamente corado e envergonhado. Quando o assunto era garotas, ele não tinha o menor jeito.

- Por que não vai se trocar? – disse rindo timidamente ao entender sua reação, virando-se de costas – Prometo não olhar.

- Ah, até parece! Vou me trocar o banheiro... e nem pense em sair daí! – bravejou pegando peças de roupa no armário e se trancando no banheiro.

Poucos minutos depois, sai bufando do banheiro, pensando no mico que acabara de pagar, e viu somente Quilava em sua cama, que ainda dormia pesado. Foi para a sala e viu a garota observando o pôr-do-sol pela janela, ao lado de Flay e de um engraçado Pokémon parecido com um ovo, mas com pequenas patas e asas, um pescoço alongado e triângulos coloridos pelo corpo.

- Me desculpe se eu te assustei invadindo sua casa... – disse chamando ainda mais a atenção do garoto – É que eu não tinha onde me esconder.

- Não tem problema, eu acho, só não faça isso de novo.

Ela riu, mas voltou a ficar séria.

- Ellie não é?

- Isso. – e virou-se para ver o que ele queria.

- É ... esse Togetic, é seu? – disfarçou.

- Ele é, o crio desde que ainda era um ovo, assim como você com seu Flareon. – disse acariciando os Pokémon, que aceitaram de bom grado.

- Mas como você...

- Sei de muitas coisas, só isso.

- Por isso aqueles caras estavam atrás de você? – perguntou sentando-se no sofá.

- Vamos dizer que lhes causei alguns prejuízos. E eles vão voltar...

- Como assim?

- Eles são Pinchers, carinhas que, digamos, não têm boas intenções.

- Grande coisa, por que eles viriam atrás de mim?

- Talvez porque você gora sabe demais, e não devolveu o livro que eles pediram. Se você queria chamar a atenção deles, acaba de se tornar seu alvo principal. Temos que arrumar suas coisas e cair fora.

- Não vou com você para lugar nenhum. – disse num tom alto, mostrando superioridade.

- Calma, não precisa ser tão rude! – retrucou brava – Um pouco de delicadeza de vez em quando não mata ninguém!

Richard ficou surpreso com a reação de Ellie; fazia muito tempo que ninguém falava com ele daquele jeito. Na verdade, ninguém lhe dirigia a palavra.

- Olha, já está escurecendo, então que tal dormimos e amanhã eu decido o que faço? – propôs.

- E-eu, posso dormir... aqui? – falou pausadamente; seus olhos pareciam brilhar com a proposta.

- Vamos fazer assim: você fica no meu quarto e eu na sala. – disse, deixando-a sem jeito.

- Olha só, quem diria? O senhor arrogante sendo gentil... – disfarçou ironizando, indo para o outro cômodo sendo seguida por seu Togetic, que ria dele.

Richard, meio confuso, olha para Flay e vê que ele parecia rir de sua situação:

- O que foi, o que queria que eu fizesse?



Um homem entra correndo por uma enorme porta numa grande e escura sala, sendo possível ver somente a silhueta de três pessoas, uma delas estando sentada.

- Senhor, trago notícias da missão!

- Fale então! – respondeu o que estava sentado.

- Os agentes 5-41 e 5-42 conseguiram achar e contatar o alvo, mas foram presos por Rand.

- Pelo menos eles serviram para alguma coisa... – disse severamente.

- Só que ainda tem mais, senhor.

- Mas o quê?

- O livro pedido ainda não foi encontrado e... – hesitava receoso – há rumores de que ela o encontrou também, ajudando-o a fugir.

- O que você disse?! – gritou batendo na mesa, levantando-se – Aqueles vermes, não conseguiram nem faze isso direito! Vá e avise ao batalhão, mudança de planos!

- S-sim senhor... – e saiu correndo.

- Vocês dois – disse virando-se para trás, onde havia as outras duas silhuetas – agora o caso está em suas mãos, e não me decepcionem! Já tive dor de cabeça demais por um dia.

- Pode deixar... senhor! – disse um deles, e saíram da sala.

- Chega de enrolação, hora de nossa triunfal volta... – falou sozinho, no escuro.

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